A evolução tecnológica tem impactos em todos os aspetos da sociedade. Em particular, novas tecnologias criam novos trabalhos e novas formas de trabalhar. Hoje, um conjunto muito significativo de empregos são baseados no uso de computador e de internet. O trabalho é feito com o computador, os dados são guardados, enviados, acedidos, editados através da internet e um grande conjunto de serviços de comunicação, armazenamento, computação na nuvem, etc, estão disponíveis.
As equipas usam email, chatters, videoconferência para comunicarem; ferramentas de edição colaborativa; sistemas de versionamento de código; redes privadas virtuais para poder estar na rede interna independentemente de onde se esteja fisicamente; partilha de ecrã e remote desktop; sistemas para gestão e distribuição de tarefas. Tudo isto e muito mais. Muitos trabalhos dependem totalmente e unicamente destas tecnologias.
E apesar de toda a oferta de dispositivos, serviços e tecnologias que providenciam segurança, eficiência, eficácia, qualidade e mobilidade, o escritório é ainda o local típico de trabalho para os profissionais cujo trabalho é feito inteiramente com recurso a essas mesmas tecnologias. Ou seja, e por outras palavras, hoje celebramos a era da mobilidade e gozamos do privilégio de podermos fazer tudo o que é possível fazer com um computador em qualquer sítio; no entanto, continuamos a ir para o escritório todos os dias. Enfrentamos o trânsito, o stress, o acordar cedo, as correrias para chegarmos ao escritório, para passarmos o dia a trabalhar com o computador, a internet e todas as suas versatilidades.
Isto é como pegar no carro, conduzir 20km e enfrentar uma fila de trânsito até ao ginásio para fazer passadeira quando está um belo dia de sol e temos um parque muito bonito ao lado de casa.
Hoje, o trabalho remoto é possível para muitas profissões e tem imensas vantagens. E as vantagens são tanto para a entidade empregadora como para o trabalhador como também para quem não trabalha remotamente!
Ao trabalhar a partir de casa o colaborador tem um ganho imediato: tempo. Tempo que não perde a conduzir preso no trânsito e que pode ser usado para outras atividades como descansar, estar com a família e amigos, ter um hobby, cozinhar, fazer exercício. Este é um ganho muito significativo. Tão mais significativo quanto maior a distância entre casa e o trabalho e quanto maiores os problemas de trânsito existentes.
Numa cidade de congestionamentos constantes e de horas de ponta tortuosas para quem enfrenta o trânsito diariamente, é normal gastar-se 2 ou mais horas em trânsito… em cada sentido. Isto significa 4 horas diárias que são, tipicamente, desperdiçadas. 4 horas diárias que se traduzem em menos tempo com a família, pouco tempo para descansar e para comer bem e descansado, ausência de hobbies, ausência de atividade. Em resumo, tem impacto direto na qualidade de vida, na sua satisfação, no seu nível de stress. E estas são questões que devem preocupar o empregador.
Um colaborador insatisfeito, stressado, sem saúde, cansado é um colaborador que não produz. Mesmo considerando um caso menos extremo de 1 hora de viagens de cada sentido, estamos a falar de 2 horas diárias, ou 10 horas semanais ou 44 horas mensais que poderiam ser aplicadas em algo mais útil e que trouxesse mais satisfação.
Hoje fala-se muito de como as pessoas dormem pouco e mal e como isso afeta a saúde. Não ter de gastar 1 hora todas as manhãs para ir para o trabalho pode ser a diferença entre dormir 6 horas ou dormir 7 horas por noite e isto é uma diferença significativa.
Outra vantagem óbvia é a poupança. Para o trabalhador, não ter de ir todos os dias para o trabalho dispensa a necessidade de gastar combustível no carro, portagens, estacionamento ou de comprar o bilhete mensal para os transportes públicos. Pode até tornar desnecessário ter-se carro e, com ele, outras despesas como seguro e manutenção. Considerando uma pessoa que se desloca em transportes públicos na área da Grande Lisboa e que tem um passe mensal no valor 67 euros (valor arredondado do passe L123), no final do ano, o dinheiro poupado é de 804 euros, dinheiro que pode ser usado para, por exemplo, umas férias para relaxar.
Também para o empregador a poupança surgirá. Se um empregado está em casa a trabalhar, não precisa de um posto de trabalho. Assim, corta-se no custo de mobiliário, pode-se ter um escritório com área mais reduzida, diminuindo a renda. Pode-se também considerar a hipótese de não ter o escritório num local central da cidade e, como tal, mais caro. Para quê pagar para estar num sítio bem localizado, com muitos acessos, se os colaboradores estão em casa?

A produtividade é um ponto que, tipicamente, é visto como o calcanhar de Aquiles desta abordagem de trabalho. O receio de os trabalhadores terem muitas distrações em casa ou de haver uma grande tentação de preguiçar por não estar um gestor presencialmente a controlar o trabalho podem ser entraves a um empresário para introduzir o trabalho remoto na sua empresa. Mas, tal como acontece no trabalho no escritório, têm de existir metodologias e ferramentas para atribuição de tarefas e para controlo. Com a metodologia correta é fácil perceber se o colaborador está a fazer o seu trabalho corretamente.
Mas isto não é uma novidade introduzida com o trabalho remoto. Todo o trabalho deve ter alguma forma de medir desempenho e produção. Afinal, um empregado também pode ociar no escritório e usar cada oportunidade que tenha para navegar no facebook.
Ainda sobre este ponto, e recorrendo ao que foi escrito anteriormente, é importante considerar que alguns fatores essenciais para a produtividade é o bem-estar, a motivação, a ausência de stress, o repouso adequado. E um empregado que enfrenta 1 hora de deslocações de manhã, mais 1 ao fim da tarde, que dorme pouco, que não come bem, que não tem tempo para fazer exercício nem para passar tempo com a família, chegará ao escritório cada manhã mais cansado e desmotivado que um empregado feliz a trabalhar em casa.
(Continua na segunda parte…)